meio que acampados numa casa alugada, grande, decadente, e assombrada. Olivia, no orgulho, intolerância, e suposta auto-suficiência dos seus difíceis quinze anos, escolheu morar no basement da casa e fazer daquela grande extensão húmida, escura, e segundo ela própria, preferida dos fantasmas, a sua área. De noite, levava Nala pra dormir com ela. Naquela vez, eu tinha descido cautelosa para desejar Olivia boa noite. Até bem pouco tempo, ela fôra minha filha-amiga- de -copo- e de cruz, mas da noite pro dia, no meu geriátrico relógio interno, passou a me olhava com o olhar critico da adolescência. A esse ponto sei que sou e sempre fui um "misfit" e não deve ser fácil ser meu filho e querer me "reconciliar" com o mundo. Mas pra mim também não é fácil lidar com a reação deles, e eu estava na pior. Nala estava deitada numa almofada no chão e dava pra ver que ela, de quem meu filho recentemente tinha se despedido pra viajar, estava num limbo assim como eu, que sem conhecer ninguém numa cidade nova e numa casa decrépita, me sentia ignorada pelo mundo.
A TV na parede acabava de mostrar a cena do filme Life of Py, em que o menino, dentro do barquinho quase naufragando, grita para o tigre que vinha tentando salvar contra todas as circunstâncias hostis do meio de um oceano infinito, ”We are dying, Py!”
Minha filha estava no seu computador e revirou os olhos quando eu lhe disse boa noite. Contendo as lagrimas antes de sair do quarto, vi Nala jogada ali numa almofada no chão, como o tigre no banco do barco, eu e ela, deixadas pra trás e tendo deixado tudo pra trás. Num impulso, me abracei com ela, ” Good-night, girl, I love you”. Ela me olhou “dizendo” que entendia, tenho certeza.
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