
Chris, meu filho, se saiu com a expressão do titulo, para definir a attitude de muitas pessoas em Boulder, esta cidade idilica no vale entre as Montanhas Rochosas, abrigando milhões de pessoas que se acham, se não iluminadas, no caminho da iluminação. “ Pra qualquer reunião, ou bate-papo, esse tipo de gente vem prefaciar o evento com mil termos absurdos, tipo, "Let's hold the space" (Vamos segurar o espaço… vamos lembrar que somos todos conectados com a criação original, vamos isso e aquilo”) disse Chris, e concluiu, “ Eles vem pra gente com uma espiritualidade agressiva!”
Achei a descrição perfeita. Parece que
espiritualidade virou critério de
diferença entre quem ta por dentro e quem não está, como uma moda. Conhecemos
pessoas que participam de círculos (supostamente espirituais) de maconha, de
respiração, de peyote, de meditação “transpessoal”, círculos de honrar o
sagrado feminino, círculos de tudo que se pode imaginar, e se não menciono
rituais de Ayahuasca entre eles, é por não querer jogar o sacramento da
Floresta no mesmo saco que, “multi-místico”, lembra os pacotes “combo” do Mac
Donald’s, que contém batata frita, Coca-Cola (tamanho grande, claro) sanduiche
de tres camadas, bacon, ketchup, etc.
Pra dar uma ideia geral do projeto, a autora definiu
graça religiosa da seguinte maneira:
“Graça
é o girar dos campos de torção que formam a matéria, a realidade, e a
experiencia”!!! (Entenda isso e depois me conta se vc parou no hospício ou na
polícia...)
Pra completer a ideia geral do livro da
mulher, informo que nas credenciais do cara que escreveu o prefacio, foi mencionado
o titulo do livro que ele próprio escreveu, e que em ingles transmite melhor a
pretensão de incluir a ciência Física na esfera religiosa, e dar a essa esfera a exatidão de uma fórmula, para que todos pensem poder aprende-la e botá-la em prática em benefício próprio: “The Physics of
Miracle”.
Mesmo
assim, li passagens aqui e ali do livro da proprietária, e logo o devolvi `a
poeira da prateleira.
Até então, eu tinha achado aquela casa perfeita, encarando o mar tão bem, com uma divisão do espaço interno que transmitia paz.
Podia se ver diretamente o por do sol de cada uma de suas salas comunicantes,
como também da varanda em comum a que davam acesso. Podíamos estar todos juntos naquela área sem nos sentir um em cima do outro, repartindo o mar, o céu e o sol,
enquanto fazíamos coisas diferentes. Me dei conta de como é bom poder ter
pessoas que amamos simplesmente respirando sob o mesmo teto que nós,
independente de qualquer comunicação verbal. Nós quatro, sem muito papo, mas
com muito amor. Pensei que quem morava ali devia ter uma cuca boa. Mas depois
que vi aquele livro, que no mínimo foi escrito ali, fiquei
me perguntando como um visual tão esplendoroso se deixara ser mero pano de
fundo pra tanta ambição. Pano de fundo pra espiritualidade “de metralhadora em
punho”…
Nem
a paz da linha do horizonte, nem a divindade da vista ininterrupta do mar pôde
fazer alguém pré meditado baixar as armas. “Mas isso é California, isso é Estados Unidos,
after all,” pensei. As armas americanas nunca são baixadas. Em relação `a
espiritualidade, elas se intitulam de “ciência”, pois, diferentemente da liberdade do
espírito, ciência é algo que controla e se pode controlar. Algo que tem
regras a se aprender, obedecer, e repetir infinitamente.
Na
terra do controle remoto, deve se tentar fazer a espiritualidade acontecer, como se apertando um simples botão, ou tocando num icon de iPhone. Mas pra virar passe tecnólogico,
ela tem que ser primeiro transformada em ciência, algo sem mistério pois que
controlável e ensinável, tout
simplement.
Obviamente, o livro da proprietária continha promessas veladas de sucesso
financeiro. Quem quer controlar certamente quer dinheiro, assim como quem quer através de um livro, ensinar a controlar. Mas quem tem saco pra tentar aprender
um controle que não existe, o de um mundo que deve ser a libertação de todo controle, é incapaz de baixar as armas, e merece se enganar com
aquele livro.
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