Saía de casa com meu cachorro, lá pelas onze e meia da manhã, pensando que o fenômeno celeste ja tinha no mínimo acontecido, pois que se faz tamanha onda em torno de eventos cósmicos que muitas vezes quase nada, ou mesmo nada, se vê deles, como a passagem do cometa Haley, há séculos atras. Nessas ocasiões, a indústria se aproveita, vendendo todo tipo de produtos em torno do evento. Disseram-me que o eclipse de hoje seria `as 10:30, e, na cozinha, eu via a luz do sol lá fora, fixa e constante. Porém, assim que abro a porta, o jardineiro aponta pra sombra das folhas das nossas plantas na calçada, e me diz, "Olha o eclipse..."
Nunca pensei poder ver sinal de eclipse no chão, mas quem diria, a sombra das folhas refletia o que se passava no céu. Ao invés de projetar a forma dessas folhas, mesmo que com leve distorção, de acordo com a posição do sol, a sombra delas formava, esta manhã, um padrão completamente diferente, de pequenos "C"s, ou luazinhas crescentes. Por mais que haja explicações para fenômenos supostamente naturais, a primeira vez que a gente vê um deles se sente diante de um milagre. O que vi, na transformação das folhas em pequenos astros, foi o mundo vegetal literalmente refletir o cósmico; o solo se tornar eco do céu.

Peguei correndo os óculos adequados pra poder olhar o sol, enquanto levava o cachorro rua acima, entre exclamações de maravilhamento e pausas desajeitadas para reajustar os óculos, apreciar, registrar de qualquer jeito, no iPhone.
Através dos anos, ouvi muitas coisas sobre
eclipses. Geralmente, as pessoas têm medo, ou ficam na defensiva, talvez
pelo evento concernir uma interrupção da luz emitida pelo astro rei,
tanto na que vem pra terra, como no caso da que acabo de ver, quanto na
que vai pra lua, quando nosso planeta se bota entre esta e o
sol. Soube de gente que nesses dias, nem quis sair de casa. Alguns
falaram em reajustes e/ou quebras de relações, enquanto outros anunciaram novos
começos. Evito me agarrar com interpretações que sirvam a coletividade, por isso não sigo astrologia, embora não lhe seja descrente. Independente desta, quanta gente pensou que o mundo não passaria do ano 2000, devido `a leitura que fizeram sobre o gesto do Menino Jesus de Praga? Quantos
outros, traduzindo calendários da antiguidade, e sabe-se la o que mais, tiveram
uma certeza tão fanática quanto obsessiva, chata e derrotista, que o
ano 2012 seria fatídico?
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